30.4.08

quando escondo a minha olheira

gastei quase trinta pesos num creme anti-olheiras. nao que seja muito dinheiro (principalmente no mastercard que meu pai paga), mas dá uma dorzinha de pagar isso num pote que é menor que meu dedo indicador. tudo bem, pensei, afinal se usa muito pouco por vez, e esse pote vai durar bastante tempo, pra algo que vale a pena. eu já nao aguento mais me ver com olheiras tao feias: durmo, durmo, durmo, e nada nunca muda. já passei diferentes pomadas, já busquei melhorar a qualidade do meu sono, a quantidade de horas que durmo (pra mais e pra menos), nao uso absolutamente nenhuma droga, e já nao durmo com os olhos maquiados, mas nada disso fez a mínima diferenca nas minhas olheiras. talvez o creme, que é específico pra isso e é de uma marca bastante confiável, resolva o problema em algum tempo. mas acho bem possível que nao, e que elas fiquem pra sempre comigo, como uma cicatriz de um passado meio esquisito e borrado. porque sempre que a gente tenta esquecer alguma parte da nossa vida fica uma marca sempre presente, lembrando-nos frequentemente de tudo. e talvez isso seja saudável, em algum sentido. mas ah, por que eu tive que ser tao triste? agora essas olheiras de tristeza e insonia me acompanham até nos momentos mais felizes e bem dormidos de todos. será mesmo que todo mundo tem que saber que eu já fui triste um dia? as velhinhas no ponto de onibus, os funcionários do metro, os meus companheiros de faculdade, tem mesmo que olhar pra mim e ver, lá no fundo dessas olheiras (que sao tao incompatíveis com todo o resto do que se ve de mim), aquela tristeza tao grande de tempos atrás? talvez só eu veja, mesmo. mas de qualquer forma, nao gosto da idéia de ter algo tao aberto. nem de parecer insone quando na verdade ando tendo ótimos sonhos e noites de dez horas. mas eu ainda acredito no creme. sempre confio nos cosméticos. sempre.

26.4.08

sobre minha grande colecao de sapatos

eu sempre escolho muito bem os meus sapatos antes de sair com alguém. preciso ter certeza absoluta de que vou estar segura com a escolha, de que vou me sentir bem e, acima de tudo, de que vou me sentir eu. mas essa nao é a unica coisa. os sapatos nao sao só para mim, sao para o outro. talvez até mais do que para mim, em alguma instancia. eu preciso estar segura de que a pessoa, ao olhar pros meus sapatos, vai me ver. o que pode ser um pouco loucura, porque nem todos no mundo tem a mesma obsessao com sapatos que eu, e eu bem sei disso. especialmente no grupo dos seres de sexo masculino. e é claro que a preocupacao com os sapatos se dá em escala maior quando o sair-com-alguém se trata de um encontro. o que, em geral, ocorre com pessoas do sexo masculino. entao a coisa toda nao tem muita lógica, mesmo. eu passo horas escolhendo os sapatos que vou usar. gasto mais tempo nisso do que na roupa, na bolsa, ou na maquiagem. olho cada sapato, e vou pensando o que eu acho que cada um deles vai falar de mim. as vezes eu já sei de antemao se quero salto ou nao, se quero tenis ou sapatilha, se quero colorido ou preto. mas nunca sei de cara qual sapato quero usar. nunca. preciso ter um momento de reflexao antes, de perceber como esotu me sentindo, e, especialmente, de pensar o que eu quero dizer de mim pra pessoa com quem eu vou sair. como quero me apresentar, como quero ser vista e percebida. e cada detalhe de cada sapato reflete alguma nuance diferente de mim. da minha personalidade, do meu gosto, da minha opiniao, do meu passado. eu sei dizer perfeitamente que história e que discurso tem em cada um dos meus sapatos, e conforme vou percebendo cada coisa dessas vou vendo o que quero mostrar pra cada pessoa com quem saio. mas nao, nunca me iludi pensando que alguém além de mim fosse perceber isso. nao desse jeito, no mínimo. sei que em geral as pessoas veem só um sapato, e isso nao me importa. eu olho bem pros sapatos de cada um, e isso pra mim basta. saber que eu sou essa pessoa no mundo. é suficiente, e eu posso sorrir e me divertir gastando meu tempo com cada uma dessas escolhas, que no fundo talvez sejam só pra mim, mesmo. nao me importa. sorrio.

24.4.08

not about love

é bastante estranho isso pra mim. toda essa história de se apaixonar- ou nao. lembro de pensar algo sobre, depois de um primeiro beijo, ter a sensacao de que nada no mundo seria igual aquilo. ou algo do tipo, já nao me lembro. mas era algo concreto pra mim, era. as vezes quando eu falo é mesmo brincadeira, mas as vezes nao, as vezes eu fico mesmo tremendo sem ter o menor frio, e sinto uma coisa em algum ponto entre o etomago e o peito que nao posso controlar, e que cresce muito rápido e de um modo deliciosamente asfixiante. mas nessa história de brincar muito com tudo e com todos, eu acabo me confundindo, e também a todos. e as vezes nao sei mais se é brincadeira ou se existe algo. e toda a idéia de nao exigir muito de mim, e de aceitar que é possivel comecar algo sem achar que esse algo é o grande algo. que nem sempre precisa ser tao importante, tao arrebatador. e também nem sei mais. nunca sei. mas as vezes eu penso mesmo que a coisa é grande, que me atingiu lá naquele ponto impreciso de mim. e como é que a gente faz pra saber o que tá acontecendo? pra saber quando é que a gente só quer que seja, e por isso acha que é, e quando é mesmo? nao importa. eu nao faco questao nenhuma de saber. porque as coisas acontecem de um tal jeito, e isso nao muda conforme o que eu sei e nao sei. e depois que acontece eu acabo sabendo, de qualquer forma. mas dá uma certa aflicao perceber que tenho tantos nomes diferentes na minha cabeca, e que um vai superando ao outro e ao mesmo tempo nao. como se isso significasse alguma coisa. o fato é que agora eu queria só estar num certo lugar, e eu vivo nao sabendo qual. por um segundo me peguei pensando em algo e aí me pareceu que na verdade eu nao quero nada além de amar. nao é o amor o único que vale a pena? é sim.
ele me olha e me olha e me olha, e me parece impossível que alguém me olhe tanto e tao fundo e por tanto tempo. e me parece que quem está olhando sou eu. e que ele nem sequer está lá, mais. nao importa, eu vivo esquecendo quem ele é. mas ele me olha como eu preciso que me olhem, e eu olho de volta, e nao consigo fazer nada além de sorrir. sempre me parece melhor.

23.4.08

el humo

aew galere, se eu disse que a coisa tinha melhorado, esquecam por completo. "otra densa nube de humo cubre la ciudad de buenos aires", diz o jornal. e minha experiencia sensível vai de acordo. essa fumaca toda é a razao pela qual eu nao pude dormir essa noite, pela qual eu voltei a tossir e ter dor de garganta mesmo depois do anti alérgico, e pela qual eu estou acordada desde as sete da manha, quando na verdade só precisava acordar as dez. andam dizendo por aí que a queima dos pastos na verdade é um modo de protesto da galere do campo. e isso só me deixa mais puta. porque no caso de ser um erro de cálculo, um fenomeno bizarro, um acidente esquisito, a gente só lamenta e tenta consertar. mas quando se trata de uma manifestacao voluntária, de uma cagada intencional, aí me dá raiva. nao é que eu tenha um super repertório e entenda muito de política argentina, mas pra além de qualquer coisa específica do país, isso nao pode estar certo. por mais que a situacao no campo esteja uma merda, que esteja tudo dando muito errado, ou qualquer coisa que seja, nada justifica parar várias cidades fazendo seus moradores adoecerem e provocando acidentes que matam pessoas. se esse for mesmo o motivo, eu tenho vontade de matar o imbecil que considera isso um protesto digno (a diferenca é que eu controlo meus instintos assassinos. por enquanto). aí no meio de todo esse surto (sim, eu consegui surtar desse tamanho as sete e meia da manha), eu declarei, em plena mesa de café da manha: "quero voltar pra sao paulo!". dois minutos depois, fico sabendo que sao paulo sofreu um pseudo-terremoto. que pode ter sido pseudo e inofensivo, mas anyway, teoricamente foi um terremoto, e isso só me lembra de que o mundo está acabando, e de que nao existe lugar seguro. pra onde eu vou agora, entao? (lugar nenhum, minha filha. lugar nenhum.)

21.4.08

shuif shuif (vréuns)

fui atacada pela minha já conhecida rinite. despertada pelo inferno de humo que vivemos aqui na última semana, e que eu descobri que ninguém por aí tava sabendo de nada: o fato é que queimaram os campos como fazem todos os anos, mas aí grande buenos aires encheu de fumaca além do normal, e geral se fodeu com isso, de várias formas. no meu caso (e no de mais uma galere) foi o sistema respiratório e as reacoes alérgicas, e mesmo só saindo de máscara, pingando muito rinossoro, e tomando muita água, fiquei zuada. nada grave nem preocupante, só bem chato pra mim, mesmo. e é curioso que uma amiga minha me perguntou dessa história, entao eu achei que tava sendo noticiado aí, e que todo mundo tava sabendo de tudo, mas depois de algumas pessoas reagindo com um "de que caralhos voce tá falando?", percebi que nens. da mesma forma que por aí só se falava na menina isabella, aqui só se falava no humo. e digo mais: eu também nao tava sabendo nada da tal da isabella até ontem. é esquisito nao compartilhar das mesmas notícias que as pessoas que eu conheco. sei exatamente quem pegou quem, quem traiu quem, quem terminou com quem, e toda série de novidades fúteis da cidade de sao paulo (ou da parte dela que me diz respeito), mas nada do que dizem william bonner e fátima bernardes. estranho mesmo. hoje resolvi me arriscar e tentar fazer o gnochi do meu avo. ele tinha me ensinado por telefone ontem, fiquei morrendo de vontade, e nao perdi tempo: comprei as batatas, a farinha, e here-we-go. deu um trabalho da porra, fez uma sujeira inconcebível, e o final das contas ficou uma delícia. claro que nao tao bom quanto o dele, mas essa nao era a meta (procuro nao estabelecer metas impossíveis para evitar frustracoes desnecessárias). ficou uma delícia e eu fiz uma quantidade extremamente exagerada, o que significa que ainda vou come-lo por mais uma ou duas refeicoes, e isso é supimpa. estou esperando pelo momento em que vou deixar de ser uma total perdida no supermercado. muito sério, eu tinha uma dúvida sobre as batatas, e fui lá perguntar pro cara da balanca que pesa os legumes. perguntei e o cara disse que achava que sim, mas que era melhor eu esperar o cara certo e perguntar pra ele. "ah, ok, ele deve ser de outra sessao e tá só cobrindo aqui rapidinho, né", pensei. mas nao, quando eu me dei ao trabalho de ler a camiseta dele e prestar atencao no que ele tava fazendo lá vi que o cara era um técnico que tava consertando a balanca, mesmo. tipos que ele nao tinha nada a ver com nada daquilo, e eu lá, mega panaca, perguntando do preco da batata. ¬¬ mas eu super me esforcei pra perguntar sem sotaque e o cara me entendeu de primeira, o que significa um avanco (ou no meu español ou na simpatia dos porteños. ou ambos.). tenho que fazer um enorme trabalho sobre édipo rei, e to querendo assassinar a professora que pediu isso. é provavelmente a trilhonésima quarta vez que eu leio esse livro, mas agora em español pra dar uma leve dinamizada na coisa. nao nao, nao me interessa mais saber porque ele furou os olhos, qual é a relacao da tragédia com o destino ou com as divindades, nem qual a relacao disso tudo com a concepcao trágica da existencia, merda. mentira. o pior é que interessa sim, aí eu ainda por cima me sinto culpada por nao estar fazendo o trabalho, e por ter passado o dia inteiro cozinhando e vendo tv e definhando na minha rinite, ao inves de pegar o livro pra ler. comofas pra nao ter mais preguica? sonhei com amigos e com pessoas bizarras e totalmente avulsas, e acordei com sensacao de caos e ternurinha, paralelamente. estranho. meu corpo inteiro dói, e eu quero voltar pra cama sem ouvir no fundo da minha mente o chato do sófocles falando "voce devia estar lendo minha obra, mocinha. deixe o csi pra depois...". not gonna happen. preciso ir na farmácia, essa que é a verdade. ah, sao tantas coisas, né? vou contratar alguém pra organizar meu cérebro e meus horários, porque sozinha tá osso.

17.4.08

sobre sorriso

os surtos passam com a mesma rapidez em que aparecem, como já bem disse minha pequena loira, e isso que é o bom da coisa. sorrio e já nao acho que better run, e tá tudo bem. chorei de saudade e fui muito acolhida, e é muito essencial se sentir querida mesmo estando longe dos mais queridos de todos. hoje é aniversário do meu porco roxo, e eu odeio nao estar perto dela como ela estava no meu e como eu gostaria de estar sempre. ouvi a voz dela por uns segundos antes da ligacao cair, e depois disso meu coracao ficou disparado por horas. já estou bem, mas a falta de tudo que faz falta me dói bastante e com bastante frequencia. no entanto por aqui as coisas estao se tornando mais sólidas, estruturadas, vertical e horizontalmente. isso é ótimo. eu demoro pra responder e-mails muito mais do que gostaria, mas nao é uma questao de mera escolha. e agora eu preciso terminar meu trabalho sobre pos-impressionismo, entao os detalhes vem depois. faz frio e eu sorrio.

15.4.08

sobre o coracao batendo mais rápido e o nao-saber-o-que-fazer com isso

nao consigo mais comer. dormir ainda consigo, mas demora horas. é difícil me concentrar pra estudar, e eu tinha esquecido de tudo isso, e de como era horrível essa parte do processo (processo? ahn?). e no meio das tensoes de "the damn phone never rings", e de "já nem sei mais se quero mesmo", fui assistir grey's anatomy, num episodio nada calmo que me fez grunhir desesperada por uma hora initerrupta, e que teve um final bonito que me fez chorar. e diante do meu choro minhas roommates comentaram espantadas "mira! julia tiene sentimientos! no se puede creer!", ao que eu fiquei extremamente impressionada: calmae galere, pára tudo. eu basicamente SOU sentimento, qualé? nah nah nah, something's really wrong. nao quero mais nada disso. e nao quero me apaixonar também (too late, so deep, better run...), e nao quero ter que dizer "imbecil, por que nao ligou?" nunca mais. e, mais que tudo, nao quero assumir que apesar de tudo e depois de tudo eu continuo acreditando, e continuo sendo a mesma idiota que se convence que foi tudo uma falha de comunicacao, e que vai dar tudo certo. nao vai. (mas eu ainda acho que sim, merda, merda. qual é o meu fucking problema?). i'd really like to give up.

11.4.08

sobre toda a confusao que aqui dentro faz muito sentido

faz frio e venta. tenho ido a papelaria todos os dias, comprar mais e mais material pra faculdade. e ao banco com alguma frequencia também, pagar coisas e coisas. essa semana foi a pura exaustao (e ainda é, só acaba amanha ao meio dia e meio), e eu gosto disso tudo. estudar coisas que fazem sentido faz uma diferenca enorme na vida de alguém. ainda que tenha partes muito legais e outras mais chatinhas e que me dao preguica do mesmo jeito, tudo me parece importante e eu sei por que estou estudando cada coisa. nao existe nada tao absurdo quanto números imaginários e eletricidade, e isso é muito essencial. hoje entrego dois trabalhos que passei a semana toda fazendo. deram um trabalho da porra, mas ficaram bacanas e quando eu olho o resultado sei por que to fazendo isso tudo. é que as vezes perde um pouco o sentido. quando eu to no meio de um longo processo de pefurar papéis coloridos e depois separar as sobras por tons, em montinhos de papeizinhos minúsculos, ou quando eu nao consigo desenhar uma pera do tamanho certo porque estou pensando em como sou involuntariamente anti-social, eu me pergunto o que caralhos eu to fazendo da minha vida. mas aí em algum momento eu lembro da resposta, e consigo desenhar a pera e termino de colar cada papelzinho no lugar certo, e de quebra ainda estudo pop art e puntilismo, pra lembrar de como agora sou eu que escolho as coisas pra mim, e de como eu tenho que ir pagar contas no banco antes que elas vencam, e de como eu devo comecar a procurar apartamento, e de como tudo isso é muito bacana e assustador. estou realmente cansada, dormi pouco todas as noites e nao há pomada que resolva minhas olheiras, mas tudo bem. para além da angústia de passar dias e dias pensando numa mesma pessoa, e de todo o medo de se ver numa vida tao nova e tao já estruturada e formada, em alguns momentos eu só quero colocar umas músicas novas no meu mp3, pintar o cabelo de uma outra cor, comer honney nutos ou ir numa festa a fantasia. e acho igualmente válido. hoje tem aula de estética, que eu sempre quero assistir, e fico ansiosa até chegar na sala e encontrar com o meu professor preferido. minhas maos estao destruídas depois de horas gravando numa chapa de alumínio que ainda nem está pronta, e tudo bem, eu queria continuar gravando agora- ah se pudesse, ainda tenho um texto enorme pra ler e uns exercícios de italiano. o fato é que nunca estudei tanto assim, e ao mesmo tempo nunca gostei tanto de estudar (o que nao elimina a preguica at all, só dá um pouquinho mais de coragem pra superar). e eu to achando que isso tudo só faz sentido pra mim mesma, e que eu tenho estado tao confusa e cheia de coisas tantas na cabeca que tá tudo saindo mais ou menos assim, meio torto e fora do lugar. meu espanhol está melhor e melhor, e eu estou realmente misturando idiomas com uma frequencia louca. sinto muita saudade de muita coisa e em muitos momentos (aparentemente o tempo faz isso piorar, ao contrário do que eu esperava), e o tempo tá passando de verdade: já faz dois meses que estou aqui e já mudou muita coisa e ao mesmo tempo eu sinto que anteontem estava na d-edge falando sobre o xinga-man. isso tudo é muito confuso. vou estudar mais e mais, e voltar a sentir minha vida, que eu nunca senti tao minha e poucas vezes tao vida também. :)

5.4.08

B.R.M.C.

foi ontem, show do black rebel motorcycle club, en la trastienda. nunca fui fa de balck rebel, nem sabia muita coisa da banda, e nunca tinha visto a cara deles. só conhecia a música mesmo, e desde que ouvi a primeira música pela primeira vez (love burns, lembro perfeitamente do momento) gostei bastante. gostei bastante mas nao me apaixonei, nem nada do tipo. e fazia tempos que eu nao ouvia, devo dizer. aí quando soube que ia ter o show me animei, e ainda que nao fosse exatamente barato achei que valia a pena. chegou o dia, me arrumei, e fui, meio sem saber o que esperar, quase despreparada mesmo. e acontece que black rebel é uma dessas bandas que sao incrivelmente melhores ao vivo, tipo tortoise ou gotan project. mais na linha de tortoise, na verdade, porque gotan é facilmente apaixonante em disco também. e por mais que eu já achasse a banda boa e gostasse bastante da música (exatamente como foi com tortoise), quando vi os caras tocando ao vivo eu nao pude acreditar. o que eu mais pensava durante o show era "como eu nao percebi isso antes?". e nao sei se eu é que nao tinha sacado muito a banda até ver ao vivo ou se isso é uma coisa geral e os caras sao mesmo melhores ao vivo, mas o fato é que eu nao sei como eles nunca estiveram entre os primeiros da minha lista, mesmo. e eu nao sei quem foi o idiota que disse que o rock tinha acabado, mas ontem descubri que o rock-de-verdade, aquele lá, do bom, ainda existe e é incrível, e tava lá, potencializado num pequeno espaco com um pequeno palco em algum ponto de san telmo. o lugar também era muito bacana, de um tipo que nao existe em sao paulo, e me deixou muito encantada. nao tinha muita gente (até porque nao cabia mesmo muita gente), e com isso eu fiquei a uma distancia de pouquissimos metros do palco, sem passar por nenhum unico momento de desconforto e podendo ir até o fim da pista de vez em quando pra comprar uma quilmes e voltar. genial. e esse é o tipo de show em que eu poderia nao ter me importado em ficar perto do palco, porque nao rola uma idolatria com os caras em si, mas o show era tao bom que atraía, sabe? tanto que no tempo de uma unica musica (whatever happened to my rock'n'roll, nao por acaso) dois caras subiram ao palco, deram um abraco no peter, e desceram arrastados pelos segurancas. e isso nao foi um problema at all, porque fazia sentido dentro daquele contexto de rock-de-verdade. além do que, minha gente, a aparencia dos tres elementos era tao atrativa quanto o rock que eles faziam, do tipo que eu me casaria com qualquer um dos tres, ou com os tres juntos, ou qualquer coisa que eles quisessem (ahhhh), sem pestanejar. e no final ainda teve um momento muito incrível em que nick, o baterista, entrou, acho que na volta do bis, apontando com a mao pra platéia, e a galere, meio numas de galvao-filma-eu foi levantando a mao, achando que ele ia escolher alguém pra subir, ou algo assim. aí ele teve que explicar no microfone: "surrender, surrender! i have a pistol!", e nisso pude notar que ele vestia uma luva com uma arma desenhada que era a coisa mais legal DO MUNDO. e é meio estranho ficar relatando tudo isso, porque, se bem me lembro, nao tenho nenhum amigo que goste de black rebel, e provavelmente ninguém vai nem ler tudo isso. mas sei lá, no mínimo é um registro pra posteridade.