30.11.11

não melhora com o tempo

uma das experiências mais incríveis que se pode ter é morar em outro país. gastar tempo suficiente em outras terras, para construir toda uma nova vida: casa amigos estudos trabalho comida caminhos roupas hábitos supermercado. mas essa é, também, uma experiência dolorosa. mas não do tipo que dói tanto que melhor nem arriscar; do tipo que dói porque a dor faz parte também. porque, quando se constrói algo novo, também se desconstrói umas tantas coisas. e aí, ao voltar pr'aquela vida de antes (casa amigos estudos trabalho comida caminhos roupas hábitos supermercado), encontra-se muito dela desconstruído, mudado, crescido, diferente. e diferente é bom (não me engano), mas é também muito difícil. o conforto do lar não dura tanto tempo, ou pelo menos não tanto quanto a saudade daquelas coisas todas. vem então todo um trabalho novo de (re)construção no país de origem: os amigos mudaram, a casa está diferente, você precisa de roupas novas, seus hábitos mudam, seus caminhos são outros. e esse é um trabalho difícil - pois não se pertence mais como antes, e se fazer pertencer é uma tarefa complicada. uma vez passado por isso, tudo volta a uma normalidade: se acostuma com os novos (às vezes velhos) hábitos, pessoas, e lugares, e todos se acostumam também- a novidade passa, a saudade passa, o embalo passa. e sobra uma vida normal a ser vivida (e normal é bom, não me engano). mas o problema com a vida normal é que ela é tão normal quanto a vida que se vivia lá longe- e no entanto não é a mesma vida. e pra esse problema não existe solução: uma nunca será a outra, e nenhuma das duas é, por si só, melhor (nesse momento é melhor pra mim estar aqui, mas quem sabe?). então, o que sobra é uma eterna saudade de onde não se está, uma dorzinha de dúvida de oquefazeragora, e muito choro nostálgico regado a fotos, vídeos, textos, e lembranças. porque a vida em si é uma só, e dividi-la dói, como dói dividir o corpo, os amigos, a família, a casa.
me deparo, mais de dois anos depois, sofrendo de saudade e querendo voltar (buenos eran esos aires), mais uma vez, pra sempre (até que dê saudade e eu volte e aí comece a doer, e eu volte, and so on).