28.12.09

dear _,
gostei disso de escrever cartas, principalmente tendo a segurança de que você nunca vai ler nenhuma delas (porque todos sabemos, é perigoso demais se comunicar). especialmente quando é assim, quando é sobre amor, quando pode doer (e com você sempre pode doer. fico imaginando que você me cantaria "someone might get hurt and i won't be me" e me acho boba por pensar isso, porque um dia quem se machucou foi você sim, e a culpa foi toda minha, e no entanto eu te vejo como essa pessoa tão forte e inatingível, tão impossível- mas um dia você foi possível, lembra?). escrevo agora porque estou confusa, e não que isso seja novo em mim, não que me seja estranho. mas vi fotos de pessoas fazendo o que elas gostam, e pensei que esse é o ponto da minha vida em que tudo vai começar a mudar mais e mais, cada vez mais, e, ah, me deu medo. e pensar em você me acalma um pouco, por algum motivo estranho: acho que eu lembro de ter sido muito amada, e não há nada mais quentinho que isso. fiquei me perguntando como sabemos o que é que a gente ama mais, o que é que a gente quer fazer pra sempre. é impossível, não é? e fazia tempo que eu não sentia esse medo, de ser uma dessas pessoas tão perdidas que acabam no nada, só se rodeando de gente que parece querida, de gatos, de festas, de amores, de corpos, de outros perdidos. não quero nunca ser uma dessas pessoas, e queria você aqui pra me dizer que não, que estou muito longe disso, que minha confusão é só normal, e que eu só não sou mais óbvia porque sou especial em tantas coisas. mas sem você pra me dizer isso, não sei se posso acreditar, porque com certeza as pessoas mais perdidas de todas acabam sempre achando que vão se achar, e esse pode ser o meu caso. e se esse for o meu caso, deito na minha cama e choro, choro a noite inteira, choro por dias, choro pelo menos até minha tpm passar, e eu conseguir não sentir vontade de chorar por mais de uma hora. uma hora é pouco tempo, sabe, e é assim que eu ando chorando- ou sentindo vontade de. me assusta um pouco, porque eu conheço minhas lágrimas tão bem, e sei que às vezes passo dos limites, sei que é fácil exagerar, e que várias vezes elas me afogaram sem eu nem perceber. não conto mais os meus choros, não vejo mais motivo. acho que os balanços da minha vida independem disso agora (e fico feliz de ter parado com isso, porque certamente esse mês me assustaria, só por causa dessa semana. e o que uma semana pode fazer numa vida?) ah, _, acho que me perdi, isso provavelmente está tão incompreensível e desordenado quanto meu quarto, que deveria estar organizado nesse momento, sabe? o que foi que mudou? não é falta de amor, não é falta de vontade, não é falta de sorriso. provavelmente é só falta de coragem.
yours truly, _.

8.12.09

uma carta- que eu nunca escrevi.

dear _,
acho engraçado como as coisas da vida sempre vão se superando, e como quando parece que a nossa tristeza é a maior do mundo de repente um dia a gente fica tão triste que não se lembra de ter sentido antes tanta tristeza, e aí a gente tem certeza de que aquela sim é a maior tristeza do mundo. talvez eu que seja mesmo exagerada, e disso sempre soubemos, mas acho mesmo que é algo que acontece com todo mundo pelo menos uma vez na vida: a gente acha que a nossa dor é a maior do mundo; que ninguém entende a nossa solidão; que ninguém nunca chorou tanto, nunca se drogou tanto pra esquecer da vida, nunca quis tanto parar de viver. e é sempre mentira, não é? acho que você me ensinou que se eu sou especial não é na minha dor, não é na minha tristeza: que isso todo mundo tem. que o meu brilho está nos meus dentes de baixo, no meu sorriso espontâneo, no meu amor e na minha saudade; no momento em que eu te olhava nos olhos e você sabia que eu tinha me deixado conquistar, que não havia mais defesas nem nenhuma dessas bobagens de quem tem medo de sentir demais- ou de menos. é que agora estou sentindo, e pensei nisso tudo porque, assim como nas tristezas, comecei a ver superação também nas coisas boas, e quando parecia que gostar de alguém implicava dor, tensão e peso, de repente descobri uma leveza tão bonita. queria te contar dessa leveza, e de como é gostoso sentir coisas verdadeiras por alguém sem me machucar pelo simples sentir: de como esse sentir não precisa desestruturar- e mesmo assim não ser morno. isso é tão novo pra mim, e tão bonito, que quis que você soubesse. porque gostar de você sempre me doeu, nosso amor sempre foi difícil. todos os meus amores foram tão pesados e tão cheios de atrito que queimavam. quando não era assim, era morno demais pra me mover, pra me envolver. acho mesmo que é a primeira vez na vida que consigo não ir pros extremos, e descobri como gosto desse meio termo, que é cheio do calor que me move, que me envolve, que me faz deixar conquistar, mas sem o atrito que machuca e que transborda: sem o peso. não sei por quê você, não sei mesmo. sei que quando vi que agora era assim quis te contar, quis te falar, quis te mostrar que as coisas podem ser diferentes (não que você não soubesse, quem não sabia era eu). quis te contar do meu amor, que dos teus eu já não sei.
yours truly, _.