24.6.09

sem título#4

-this is it, joel. it's going to be gone soon.
- i know.
- what do we do?
- enjoy it.
tento nao me perguntar, mas em algum momento a pergunta simplesmente vem. e a gente sempre se olhava e sorria e falava ou ficava em silencio, sabendo que em algum momento algum dos dois ia ter que fazer a pergunta. (porque a pergunta simplesmente estava aí). e também já sabemos a resposta, porque é óbvia demais pra nao saber. mas é que óbvia nao significa fácil. e como aproveitar uma coisa ao máximo, dar tudo de si e receber o máximo possível de volta, mesmo sabendo que está por acabar? tenho tentado e até conseguido, mas às vezes, antes de dormir, vejo aquela óbvia sombra se aproximando, e quando olho nos olhos dele vejo a pergunta vindo, uma e outra vez, com sua resposta tao óbvia e nossa igualmente óbvia dificuldade em entender como tudo isso funciona. e aí o que fica é uma certa raiva quase infantil, do mundo em si, por ter-nos colocado nessa situaçao tao complicada (e na verdade tao simples). mas como mais poderia ser? é impossível saber se só temos o que temos por como temos, e o que teríamos se tudo fosse diferente. entao o melhor é mesmo aproveitarmos o que temos enquanto ainda temos. e isso ficou tao repetitivo e confuso quanto a minha cabeça e os nossos olhares com a pergunta que reaparece quase contra nossa vontade. e o que vai acontecer? nao sei. nao sabemos. ninguém sabe. e nao é fácil nao-saber, nunca foi. mas, no fim das contas, é verdade que o que nos resta é aproveitar do que já sabemos, que é o que está acontecendo agora. e isso também nao é tao fácil, mas eu tenho quase certeza de que vale o esforço. porque, como já disse antes, algum dia tudo isso vai ser memória, e eu vou olhar pra esse exato momento e pensar em como eu gostaria que fosse assim de novo. e nao vai ser. e, como já disse antes, isso nao é algo trágico, nao mesmo. é só uma voz me falando pra parar de olhar tanto pra frente e pra trás, e olhar mais pra agora e pra como é gostoso quando ele passa a mao no meu cabelo por vários minutos sem parar até eu derreter no colo dele.

18.6.09

clarice

"e lóri pensou que talvez essa fosse uma das experiencias humanas e animais mais importantes: a de pedir mudamente socorro e mudamente esse socorro ser dado. pois, apesar das palavras trocadas, fora mudamente que ele a havia ajudado. lóri se sentia como se fosse um tigre perigoso com uma flecha cravada na carne, e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem lhe tiraria a dor. e entao um homem, ulisses, tivesse sentido que um tigre ferido nao é perigoso. e aproximando-se da fera, sem medo de tocá-la, tivesse arrancado com cuidado a flecha fincada."

sobre a madrugada no pronto socorro

ontem minhas costas travaram. às cinco da manha. sentei na privada pra fazer xixi, e quando fui levantar...nao levantei. desespero, que dor é essa minha gente socorro nao consigo me mexer! depois de uns minutos nisso, consegui, com muita dificuldade e muita dor, colocar a calça de novo e sair do banheiro. busquei um comprimido pra dor nas costas, e quando fui na geladeira buscar leite pra tomar... nao conseguia abaixar pra pegar a caixa de leite. meu housemate me ajudou, tomei o comprimido, e numas de ser otimista fui tomar um banho quente pra ver se passava. otimismo tolo: nao passou, eu nao consegui lavar nem secar minhas pernas, demorei 5 horas pra conseguir me vestir de novo, tudo isso sentindo uma dor absurda. é curioso, porque até ontem eu meique nao acreditava nessas de "travar" a coluna. em velhos sim, claro, mas quando pessoas na flor da juventude passavam por coisas assim eu pensava "nah, deve ser uma dorzinha, puta exagero". entao, nao é. nao é uma dorzinha, e nao é exagero. ontem senti a pior dor da minha vida, contando com espremer um furnculo pra tirar pus e tatuaras costelas ou o pé. eu chorava de dor, minha gente. e nao chorava porque pensava "poxa vida, que situaçao ruim, nao consigo me mexer, nao sei o que fazer". nao dava nem tempo de pensar em nada, o choro só saía, assim como uma resposta física à dor, mesmo. loucura. aí fui pro pronto socorro. assina aqui, por favor. eu em pé, paralizada de dor, o papel lá embaixo na mesa. "nao consigo, moça, ce pode me passar o papel?" ela se comove e diz preu passar sem assinar mesmo, que já iam me chamar pelo sobrenome. de fato chamaram, antes mesmo que eu chegue na sala de espera (onde todos os pacientes que estavam lá desde antes me olharam de maneira nada amigável). passei pro consultório, o médico pergunta, eu explico. deita na maca, por favor. "hm...nao consigo." oi, acabei de falar que to TRAVADA e o médico me manda deitar? zero compreensao do problema. aí ele dá uma olhada, umas apertadas, uns "dói aqui?", e me pergunta se eu aguento umas injeçoes. porra, cara, to TRAVADA, ce ainda nao tá entendendo? eu nao CURTO injeçoes, mas até aí eu também nao curto ir pro pronto socorro sozinha de madrugada, e aqui estou, entao isso nao é exatamente sobre o que eu CURTO, mas sobre o que eu PRECISO. "se isso vai me fazer andar e me mexer normalmente, sim", educada e chorando de dor. ele sai pra buscar a injeçao e quando volta olha pra minha cara e diz "nossa, ce tá com MUITA dor, né?". aaaah, ficou claro? é porque eu to chorando, ou porque eu to no pronto socorro sozinha às cinco e meia da manha? "sim, estou". aí ele me diz que vai aplicar uma injeçao ali na hora, e que vai me passar umas outras pra eu aplicar em casa. QUE? em...casa? "é, pede pra alguém..." nao, é que...eu nao tenho ninguém. "hm, é que os comprimidos demoram mais pra fazer efeito, nao é a mesma coisa..." mas... eu realmente nao tenho ninguém! ok, comprimidos, then. porra, sacanagem. vejam bem: eu estava com as costas TRAVADAS, chorando de dor, as CINCO E MEIA da manha no pronto-socorro SOZINHA. se eu tivesse alguém que pudesse aplicar injeçoes em mim, essa pessoa estaria aí comigo. obviamente, alguém que tá sozinha no pronto socorro nas condiçoes acima citadas, nao tem ninguém. aí eu começo a chorar mais ainda, porque a frase "eu nao tenho ninguém", junto com toda a dor que eu tava sentindo e o constrangimento do médico formaram um combo lamentável. eu queria explicar que eu nao era uma pessoa abandonada pelo mundo, que tenho pai e mae e irmao e amigos, e que várias pessoas poderiam estar lá comigo se nao estivessem em outro país, mas, sinceramente, o médico me fez sofrer com esses pensamentos, entao deixei ele sofrendo com o constrangimento de achar que eu sou sozinha. ele aplicou a injeçao, eu saí devagar e ainda com dor, demorei umas 4 horas pra achar um taxi, sozinha no frio e de havaiannas (porque quando saí de casa era simplesmente impossível cogitar a possibilidade de tentar colocar um sapato), chorando de dor e de querer colinho. dormi e acordei com dor nas costas. dor normal, dessas que a gente até consegue se mexer e se vestir. em cinco dias devo estar bem, mas ainda preciso fazer umas radiografias e tomar umas coisas. quer dizer né, "essa é a idéia", foram as palavras do médico, numas de "voce também pode morrer ou virar paraplégica, nao prometo nada". mas tudo bem, porque, sinceramente? nesse exato momento tem coisas tao bonitas acontecendo, que foda-se as minhas costas, foda-se o médico cruel. quero aproveitar porque sei que em algum momento vou olhar pra agora e pensar em como eu queria que fosse assim de novo. e nao vai ser. e isso soou trágico, mas nao deveria. é bonito e animador. vou lá pra minha bolsa de agua quente, minimizar a dor pra aproveitar melhor a noite de hoje. :)

7.6.09

god loves me and my tattoos

tatuagens:
  • sempre me perguntam o que eu vou fazer se eu me arrepender. mas nao é simplesmente uma pergunta assim, por curiosidade. é sempre uma pergunta preocupada, e muitas vezes quase uma ameaça, uma advertencia. nao vou dizer que nao me incomoda, que nao acho chato. mas a verdade é que na maioria das vezes acho engraçado. engraçado como, de tantas coisas que sao "pra sempre", as pessoas se preocupam tanto com o possível arrependimento de uma tatuagem. e como as pessoas se preocupam tanto por como eu vou me sentir a respeito de uma coisa que eu decidi colocar no meu próprio corpo. digo isso porque no geral essa preocupaçao nao vem de pessoas que se preocupem com qualquer outro aspecto da minha vida. no geral quem faz esse tipo de pergunta/advertencia sao semi desconhecidos, às vezes até completos desconhecidos. e isso é o que me incomoda, essa ameaça disfarçada de preocupaçao. e sempre dou a mesma sincera e educada resposta: "se eu me arrepender eu vou lidar com isso, como com qualquer outro erro da minha vida". nao, nao estou dizendo que as pessoas deveriam sair por aí tatuando qualquer coisa sem pensar, usando o discurso de "se eu me arrepender paciencia, já foi". é sempre legal evitar arrependimentos ao máximo, mas nao é legal deixar de fazer coisas que realmente queremos só porque um dia podemos talvez nos arrepender disso: tudo tem sua medida, nao se trata de nao fazer nada nem de fazer tudo o que te vem à cabeça. é como tudo na vida.
  • outra questao que sempre vem à tona é a dor. me perguntam como aguento, se dói muito, etc. essa, claro, é uma dúvida completamente normal, e nao me incomoda at all. o que eu acho um pouco estranho é quando alguém que tem alguma tatuagem fala que "aguenta" a dor SÓ porque o resultado vale a pena. nao, também nao sou uma masoquista louca que acha que as pessoas tem que se tatuar só pra sentir a dor. acho que o foco é a tatuagem em si, o resultado, e tal, maaaas, nao acho que a dor seja algo que está aí, no meio do caminho, e que é "um mal necessário". acho que é uma parte essencial da tatuagem, uma parte importante do processo, que tem que ser disfrutada em alguma medida. claro, claro, cada pessoa lida como quer com esse assunto, nao to querendo ditar o que deve e o que nao deve ser sentido. é só que, pra mim, isso de tratar a dor da tatuagem como algo ruim, que tem que ser "aguentado", soa estranho, porque, no fim das contas, se tatuar é um processo doloroso, e se submeter a isso achando essa dor horrível é algo um pouco... esquisito. amar as tatuagens odiando a dor me parece ilógico.
  • tem também a história dos significados das tatuagens, uma lenda altamente difundida pelo miami ink (programa muito bacana, por sinal). a questao é que nem todas as tatuagens do mundo sao homenagens a alguém, ou servem pra ajudar a pessoa a superar algo difícil. algumas tatuagens sao só pela tatuagem, mesmo, e isso nao necessariamente é algo ruim ou vazio. vejam bem: a tatuagem é algo estético, e em alguns casos pode ser SÓ estético. por que nao? nao me parece algo condenável fazer uma tatuagem pela beleza dela. sem significado é mais fácil de se arrepender? talvez. mas, de novo, há uma medida pra tudo. e a beleza definitivamente nao é algo vazio.
  • sobre as reaçoes das pessoas: acho chato que olhem minhas tatuagens? nao. acho chato que olhem feio? acho. muito. é algo super simples: eu nao olho feio pra gente que se veste mal, por exemplo, por respeito. e nao acho que deveria ser diferente com as tatuagens: se voce acha feio, ok, normal, mas, por respeito e bom senso, guarde isso pra voce, ou no mínimo seja educado em comunicar sua opiniao. no fim das contas, o corpo é meu, e ninguém deveria se incomodar tanto com o que eu faço com ele, porque é algo que me faz feliz, nao me prejudica, nao é inconsequente, e, o mais importante: é algo que eu amo. e se é difícil entender esse amor, paciencia. amor é algo bom.
nao acho que devam existir regras mundiais sobre tatuagens nem to falando que o que eu penso sobre o assunto é a verdade. cada um tem suas próprias regrinhas, sua própria maneira de lidar com o assunto, suas próprias idéias e opinioes. como tudo na vida. sei que é um assunto polemiquinho, e acho isso bastante chato. e é disso que se trata esse post, actually: da chatice das polemiquinhas sobre tatuagens. essas sao minhas opinioes sobre o assunto, e já que me perguntam tanto sobre tudo isso, decidi publicar. (e eu nao pretendo parar de me tatuar tao cedo, possivelmente continuarei até nao ter mais espaço, entao por favor parem com esses comentários de "voce nao para mais, heim" a cada tatuagem que eu faço, porque em algum momento até voces vao se cansar disso. é, nao paro. sim, vou virar um gibi. sim, estou feliz com isso.)