18.6.09

sobre a madrugada no pronto socorro

ontem minhas costas travaram. às cinco da manha. sentei na privada pra fazer xixi, e quando fui levantar...nao levantei. desespero, que dor é essa minha gente socorro nao consigo me mexer! depois de uns minutos nisso, consegui, com muita dificuldade e muita dor, colocar a calça de novo e sair do banheiro. busquei um comprimido pra dor nas costas, e quando fui na geladeira buscar leite pra tomar... nao conseguia abaixar pra pegar a caixa de leite. meu housemate me ajudou, tomei o comprimido, e numas de ser otimista fui tomar um banho quente pra ver se passava. otimismo tolo: nao passou, eu nao consegui lavar nem secar minhas pernas, demorei 5 horas pra conseguir me vestir de novo, tudo isso sentindo uma dor absurda. é curioso, porque até ontem eu meique nao acreditava nessas de "travar" a coluna. em velhos sim, claro, mas quando pessoas na flor da juventude passavam por coisas assim eu pensava "nah, deve ser uma dorzinha, puta exagero". entao, nao é. nao é uma dorzinha, e nao é exagero. ontem senti a pior dor da minha vida, contando com espremer um furnculo pra tirar pus e tatuaras costelas ou o pé. eu chorava de dor, minha gente. e nao chorava porque pensava "poxa vida, que situaçao ruim, nao consigo me mexer, nao sei o que fazer". nao dava nem tempo de pensar em nada, o choro só saía, assim como uma resposta física à dor, mesmo. loucura. aí fui pro pronto socorro. assina aqui, por favor. eu em pé, paralizada de dor, o papel lá embaixo na mesa. "nao consigo, moça, ce pode me passar o papel?" ela se comove e diz preu passar sem assinar mesmo, que já iam me chamar pelo sobrenome. de fato chamaram, antes mesmo que eu chegue na sala de espera (onde todos os pacientes que estavam lá desde antes me olharam de maneira nada amigável). passei pro consultório, o médico pergunta, eu explico. deita na maca, por favor. "hm...nao consigo." oi, acabei de falar que to TRAVADA e o médico me manda deitar? zero compreensao do problema. aí ele dá uma olhada, umas apertadas, uns "dói aqui?", e me pergunta se eu aguento umas injeçoes. porra, cara, to TRAVADA, ce ainda nao tá entendendo? eu nao CURTO injeçoes, mas até aí eu também nao curto ir pro pronto socorro sozinha de madrugada, e aqui estou, entao isso nao é exatamente sobre o que eu CURTO, mas sobre o que eu PRECISO. "se isso vai me fazer andar e me mexer normalmente, sim", educada e chorando de dor. ele sai pra buscar a injeçao e quando volta olha pra minha cara e diz "nossa, ce tá com MUITA dor, né?". aaaah, ficou claro? é porque eu to chorando, ou porque eu to no pronto socorro sozinha às cinco e meia da manha? "sim, estou". aí ele me diz que vai aplicar uma injeçao ali na hora, e que vai me passar umas outras pra eu aplicar em casa. QUE? em...casa? "é, pede pra alguém..." nao, é que...eu nao tenho ninguém. "hm, é que os comprimidos demoram mais pra fazer efeito, nao é a mesma coisa..." mas... eu realmente nao tenho ninguém! ok, comprimidos, then. porra, sacanagem. vejam bem: eu estava com as costas TRAVADAS, chorando de dor, as CINCO E MEIA da manha no pronto-socorro SOZINHA. se eu tivesse alguém que pudesse aplicar injeçoes em mim, essa pessoa estaria aí comigo. obviamente, alguém que tá sozinha no pronto socorro nas condiçoes acima citadas, nao tem ninguém. aí eu começo a chorar mais ainda, porque a frase "eu nao tenho ninguém", junto com toda a dor que eu tava sentindo e o constrangimento do médico formaram um combo lamentável. eu queria explicar que eu nao era uma pessoa abandonada pelo mundo, que tenho pai e mae e irmao e amigos, e que várias pessoas poderiam estar lá comigo se nao estivessem em outro país, mas, sinceramente, o médico me fez sofrer com esses pensamentos, entao deixei ele sofrendo com o constrangimento de achar que eu sou sozinha. ele aplicou a injeçao, eu saí devagar e ainda com dor, demorei umas 4 horas pra achar um taxi, sozinha no frio e de havaiannas (porque quando saí de casa era simplesmente impossível cogitar a possibilidade de tentar colocar um sapato), chorando de dor e de querer colinho. dormi e acordei com dor nas costas. dor normal, dessas que a gente até consegue se mexer e se vestir. em cinco dias devo estar bem, mas ainda preciso fazer umas radiografias e tomar umas coisas. quer dizer né, "essa é a idéia", foram as palavras do médico, numas de "voce também pode morrer ou virar paraplégica, nao prometo nada". mas tudo bem, porque, sinceramente? nesse exato momento tem coisas tao bonitas acontecendo, que foda-se as minhas costas, foda-se o médico cruel. quero aproveitar porque sei que em algum momento vou olhar pra agora e pensar em como eu queria que fosse assim de novo. e nao vai ser. e isso soou trágico, mas nao deveria. é bonito e animador. vou lá pra minha bolsa de agua quente, minimizar a dor pra aproveitar melhor a noite de hoje. :)

5 comments:

Homem do Saco said...

Tô ligado: dói PRA CARAIO!!!
Eu tenho sempre em casa um comprimido que os caras do Jiujitsu tomam, mina: Tanderalgin!
É uma puta mistureba, tipo, cafeína com diclofenato com um outro ato com porra o que mais, mas funciona o treco!
Como diz minha mãe, hipocondríaca de mão cheia, "tira com a mão".
Claro que no caso extremão feio o seu, só injeção, mas em outros menos fodidões, tenta que é bão demais!
Hum.... quase vicia...
Acho que vou tomar um agora...hehehe...té +!

Fica boa logo!

Beatrix Miranda said...

e por que então não fala de coisas bonitas ao invés da travada nas costas, já que são mais importantes? ;)

ý said...

porque as coisas bonitas sao bonitas e importantes demais pra lançar explicitamente ao desconhecido.

ý said...

mas no post ali de cima tem algo nao explicito sobre as coisas bonitas.

Anonymous said...

Tô travado nesse momento e acabei aqui em busca de alguma dica pra essa dor ir embora... Mas o pior mesmo foi ler esse texto todo escrito em branco no fundo escuro... Agora tô com dor nas costas e tô vendo listras em tudo que vejo... Tchau, vou tentar colocar um tênis (a calça eu consegui depois de muito esforço) e vou pro hospital.