19.8.09

cause i'll never, never sleep alone

sempre dormi abraçada no mesmo leão de pelúcia. sempre. até que um dia fui pra longe e esqueci ele aqui. ele, que era tão importante, que tinha nome e identidade, que me acompanhava já desde meus cinco anos, que me amava na sua condição de bicho de pelúcia, que sabia de absolutamente todos os meus segredos, e que era puro demais pra me ver com outras pessoas- ele nunca crescia, só eu. esqueci, como quem esquece um par de meias brancas ou uma caneta bic. quando notei a ausência, me desesperei, e logo me acalmei: alguma parte de mim queria esquecer e aprender a dormir sozinha. não voltei pra buscar, e depois de um tempo ele passou a ser meu companheiro de prateleira, como uma lembrança remota da nossa vida juntos e do amor que ainda existia. aí comprei um edredon de pena de ganso, daqueles grandes, fofos, pesados, quentinhos. além de me aquecer deliciosamente no frio de lá, eu gostava do pesinho dele. se eu enrolasse ele um pouco dava pra abraçar, porque ficava grande e confortável. e era isso mesmo que eu fazia: dormia abraçada no edredon. agora já não durmo mais com esse edredon. durmo comigo mesma, e com muitas outras pessoas. sempre antes de dormir imagino quem é que está lá comigo. as pessoas passam tanto pela minha cabeça, que às vezes durmo muitas noites com uma mesma pessoa, às vezes decido dormir com outra e depois com outra. sempre na minha cabeça. invento uma história, às vezes invento até a pessoa, e sempre, sempre, invento o amor. às vezes abraço, às vezes sou abraçada, às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. me desfazer do leão de pelúcia não me serviu pra aprender a dormir sozinha. só me levou a me perguntar quando é que eu vou poder parar de inventar, e ter esses abraços de verdade, essas pessoas de verdade, esses amores de verdade. porque aprender a dormir sozinha pode até ser útil, mas dormir sempre sozinha não vale a pena e não tem sentido. e cansa. como um dia cansei do leão, como um dia cansei do edredon, como canso de inventar tanto.

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