13.11.08

sobre não ter justificativas para chorar

as tragédias servem pra permitir a dor, pra justificar o choro e o sofrimento. passo a vida esperando por uma tragédia que me deixe chorar por dias e dias, sem ninguém em volta fazendo perguntas e tentando entender: a tragédia não exige explicação, te faz sofrer e todos ao redor já sabem o tamanho da dor, e respeitam. nunca entendi porque é tão difícil respeitar a dor alheia. semore achei que nenhuma dor é pequena e todas deveriam ter seu espaço, mas a verdade é que não há espaço no mundo para toda a dor: com algum critério selecionamos quais merecem espaço e quais têm que ser guardadas. as tragédias sempre merecem espaço. o problema é que quando se aproxima a idéia de uma tragédia real, a única vontade é a de que não aconteça (prefiro guardar todas as minhas dores a ter que viver essa). no fim das contas, existem dores maiores que outras, e provavelmente umas mais dignas de espaço também. o problema é que as menores e menos dignas continuam existindo, e poucas coisas são tão difíceis quanto guardar uma dor- ainda que seja uma dor sem nome. não é como se a tristeza fosse algo controlável ou passível de medida, não é como se pudéssemos deitar nas nossas camas e simplesmente dormir, com a consciência limpa por saber que a contenção da nossa tristeza está permitindo espaço para a tristeza de alguém. não. é esse não conseguir dormir e não saber começar nada, essa falta de vontade de se vestir, tomar banho, ou começar um texto (mesmo sabendo que o banho vai acabar sendo ótimo, e que no fim das contas o texto é bem interessante e útil). e pior é o não saber explicar nada disso, e ter que continuar ouvindo perguntas- não há nenhuma tragédia, não sou merecedora da ausência de perguntas. talvez eu só queira um pouco de silêncio e de mim mesma, sem tanta presença, tanta existência. mas parece que eu sempre vou precisar de alguém mais, e nunca vou saber quem.

2 comments:

Anonymous said...

a dor. belo tema. eu seria capaz de escrever um livro sobre ela. eu sinto como se um dia, ela circulasse viva nas minhas veias, algo frio no meio de todo aquele sangue quente, esbarrando nas paredes das artérias como alfinetes. Mas agora, ela se instalou em algum tecido interno e começou um processo de consumo crônico, um pedaço de carne a mais a cada dia. E mais dia, menos dia espero achar uma vacina que alivie, como morfina ou uma injeção de adrenalina.

she said...

uau.



eu nao sei o que dizer.


eu sinto isso.
exatamente isso.
e to meio em choque porque eu nao sabia que era isso.
e um pouco culpada, pq eu sou uma daquelas que ja sofreu tragedias.
vc faz a gente parecer quase desmerecedores disso, por isso...


...


eu ate teria muita coisa pra falar.
mas nao...