10.5.10

geralmente não transcrevo do caderno pro blog

peço desculpas sinceras por escrever tanto sobre você. por colocar em palavras cada imagem cada detalhe cada faísca. mas entenda: é o que me resta. naquela manhã você me tirou muitas coisas. me tirou a capacidade de omitir o que você provoca no meu estômago garganta coluna nuca coração. me tirou o pouco de estabilidade que me restava, me tirou o chão (trocando por aquele chão sujo de pedras com as nossas sombras de pássaros projetadas). e não é que eu te culpe por isso- não. sei que te dei todo o espaço e até um pouco mais, e sei que no fundo quem me tirou tudo isso fui eu. devo até ter te pedido: por favor, mude tudo entre nós, me confunda, mess me up. a gente nunca sabe o que realmente quer, e se não fosse por esse tipo de coisa talvez minha vida fosse miseravelmente chata. assim eu me ocupo; me preocupo; me preencho. mas fruto disso é a necessidade de escrever (e tenho certeza que disso você entende), que vem como um jeito de tentar organizar o inorganizável, prever o imprevisível, e entender o não-entendível. e que bom que seguem as negações: o último que quero é acelerar ou bagunçar mais as coisas. prefiro o frio na barriga, o medo, os tremores, a tensão. só preciso descarregar um pouco.

1 comment:

Flávia Onaga said...

esse texto podia ser meu. podia muito, muito.