23.3.08

noviazgo

me aconteceu já faz cerca de um mes, e o curioso é que só me marcou agora. foi extremamente bonito, e enquanto acontecia eu percebi isso e até me emocionei, mas nao passou disso, e eu voltei pra casa normalmente, sem mais pensar sobre. e aí hoje eu estava tomando banho e lembrei, como as vezes a gente se lembra de alguma coisa que nao tem nada a ver com nada do que a gente está fazendo ou pensando, a memória só vem, de repente, aparece na cabeca e a gente nem tem tempo de se perguntar porque lembrou disso. foi assim. eu estava no supermercado, tinha feito uma compra de apenas dois itens, e me dirigia a um dos caixas rápidos, daqueles de menos de 15 itens. só que eu nao sabia que aquele era o horário de rush do supermercado, e me deparei com todos os caixas extremamente lotados, com filas enormes. entrei na fila que me cabia, e lá fiquei, esperando. e logo na minha frente tinha um senhor- o caixa preferencial também tinha uma fila enorme, portanto nao fazia muita diferenca pra ele esperar em um ou em outro. ele era bem velhinho, nao me lembro a idade. muito bem vestido, como é comum dos senhores- acho isso bem curioso, também. e como também é comum das filas e esperas em geral, iniciamos uma conversa. ele iniciou, evidentemente- eu raramente falo com pessoas que nao conheco, nao por nao gostar em geral, mas porque nao me ocorre, nao é algo natural em mim. fez algum comentário sobre minha tatuagem, que, por estar recem-feita, estava bastante evidente sob o plástico e os esparadrapos. e logo me perguntou minha idade, ao que eu respondi, numa voz baixa de espanhol tímido, que tinha dezoito. e a minha resposta foi a deixa pra ele: "minha esposa tinha um ano a menos que voce quando comecamos a namorar". vale deixar claro aqui que eu sou o tipo de pessoa extremamente romantica que sonha em envelhecer com alguém, e que acha a coisa mais linda do mundo ver casais de longa data. pois bem, aí ele comecou a falar um monte de coisas sobre a esposa dele: que ela tinha morrido, que eles foram casados por muitos anos (nao me lembro de numeros, infelizmente), que ela era linda, e que, em todos os anos que eles estiveram juntos, desde o comeco do namoro até a morte dela, eles só tinham passados dois dias sem se ver. claro que isso nao necessariamente é verdade, ele pode ter romantizado a história um pouco mais, mas idependente disso (até porque, pra mim isso nao faz diferenca alguma, já que tudo que eu tenho é a história que ele me contou, e eu nao tenho nenhuma razao pra nao acreditar nela), achei incrivelmente bonito isso, porque mesmo se nao for verdade, o fato de ele ter inventado isso como um detalhe a mais na história é igualmente bonito. ele me falou até das tradicoes dele de depois que a mulher morreu, mas infelizmente eu nao me lembro. lembro que em algum momento ele tirou a carteira do bolso e me mostrou uma porcao de fotos: dela quando era jovem, quando eles se conehceram, dela no casamento deles, dela aqui e dela ali, e até a última foto que tiraram dela antes de ela morrer. eram todas lindas, realmente lindas. a mulher era muito bonita, daquelas que se ve em filme antigo, e a própria estética antiga das fotos só deixava tudo mais bonito. aí ele me disse que o relacionamento deles nao tinha sido um casamento, tinah sido um namoro de nao-lembro-quantos anos. ele passou os produtos dele, pagou, e me deu tchau, assim, como se nada fosse, sem sequer me dizer como se chamava, e sem querer saber nada de mim- eu era uma estranha na fila do supermercado, e ele só quis me contar uma história.

4 comments:

she said...

=)




ai.

"é bonito né? 'o último romance' que vc sabe que depois daquilo, não tem mais nada..."



.


eu tô sofrendo tanto por esse assunto.
mas tanto.
todo dia eu penso, e me preocupo, se tá tudo bem nesse aspecto d aminhah vida, se vai ter último romance, romantico, e mimimi.


...e lendo isso, ou pensando em qualquer coisa, como vc disse, sempre acabam me vindo imagens perfeitas de vc andando pelas ruas portenas.

quero estar aí.

Anonymous said...

isso é realmente algo que me comove ou inveja, não sei bem. já tive uma experiência praticamente idêntica, mas não foi em um supermercado e sim em um ônibus e a história era tão romântica quanto. uma história dessas é uma em meio milhão, acho eu. e eu espero, insistentemente que a minha comece rápido, se puder... em 15 minutos, só o tempo de eu tomar um banho, pois quero estar apresentável.

ps sobre seu comentário: acredito que as histórias não se vinculam. afinal, por bem ou mal, a dor e amor mudou de pessoa.

Anonymous said...

ou, parafraseando zeca baleiro "vejo os pombos no asfalto. eles sabem voar alto, mas insistem em catar as migalhas do chão", sei bem.
temos tanto em comum que isso me assusta (ou me impressiona, devido aos fatos corridos)

Anonymous said...

eternamente romantica =)

gostei