16.3.08

sobre a saudade e os choros e a falta que sao paulo me faz e o nao saber o que fazer com tudo isso

eu nunca tinha sentido nada tao grande. sobre saudade, é claro. senti muito na minha primeira semana aqui, e depois comecou a aparecer esporadicamente, em momentos mais específicos. de fato, eu nao sinto saudade o tempo todo, nem me permito muito sentir, porque preciso conseguir aproveitar as coisas e ser feliz, claro. mas quando eu sinto saudade, parece que nao vou aguentar mais nem um minuto. aí eu aguento, claro. aguento vários, e para de ser aguentar, e vira viver normalmente. isso é bom. mas a parte de sentir dói. e o mais difícil é que raramente é uma saudade específica. em geral é uma coisa maior e mais confusa, do tipo que eu nunca sei direito de quem e do que eu to sentindo falta exatamente. mas existem algumas coisas que, inevitavelmente, quando pensao nelas, choro.
  • a avenida paulista, a cada vez que passa na minha cabeca (especialmente se com uma luz acinzentada e um relógio-termometro mostrando um tempo frio ou com uma iluminacao noturna e um ponto de onibus cheio), tira lágrimas dos meus olhos.
  • a rua augusta e seus bares sempre-iguais e sempre-cheios me dá sensacao de ternurinha e me faz lacrimejar pensando em como eu provavelmente nunca vou achar algo assim por aqui.
  • a funhouse com sua iluminacao tao típica, sua jukebox clássica e super autentica, seus funcionários que sempre estao e sempre estiveram lá, os azuleijos tao reconheciveis dos banheiros e aquele bom e velho espelho onde eu sempre arrumava meu cabelo, além da minuscula pista com tanta fumaca que faz os olhos arderem e o sofá mais confortável já fabricado nesse mundo. isso e todo o resto (porque se eu decidir falar de verdade sobre a funhouse este será um post eterno) me faz chorar muito, e sempre.
  • a casa dos lopes, as tao repetitivas reunioezinhas, as pizzas e yakults, os bombons, a vá no outro canto da sala jogano ou trabalhando em seu laptop, a tv com algum seriado viciante ou algum filme que demoramos horas para decidir qual seria (e ainda tem alguém insatisfeito com a escolha), as pessoas sempre as mesmas que vao fumar na varanda, e os segundos sofás mais confortáveis do mundo. choro com sorriso.
  • a casa da loira, a cama mais gostosa de todas, o coelho de pelúcia, o computador sempre ligado, alguém meio bebado quase derrubando a mesinha de centro, alguns copos pela sala, umas garrafinhas d'água no quarto, e alguma música muito típica tocando, sempre. e as comidas igualmente típicas de casa-de-laura. e sempre alguém precisando de colo, que ou era ela ou era eu, dependendo do momento. isso me leva a um choro ternurinha de muita saudade.
  • a elite das perdizes como um todo. voltar da balada as oito da manha (geralmente com pedrinho ou mari) e passar lá, ainda bebados, pra comprar coisas muito específicas e já previamente escolhidas, e falar sobre como minha reputacao no bairro/província de perdizes é péssima. passar lá antes de pegar o onibus pra comprar pao de queijo e suco de laranja. acordar as quatro da tarde nas férias e ir até lá de óculos escuros e com a roupa do dia anterior pra comprar uma garrafa de coca-cola. olhos lacrimajeantes, sempre.
  • a casa da mari, o guitar hero, as horas gastas para se arrumar, os repetitivos atrasos, o macarrao delicioso da mae dela, os quadros por todos os lados, as caronas sempre agradáveis do fernando. a quase-rotina mais gostosa das últimas férias, me faz chorar bastante e com alguma frequencia.
  • a casa do ga, passar lá só pra dar um alo e brincar com o remy, e nunca ser de fato muito divertido, mas eu achar gostoso mesmo assim, só por estar por mais um pouco de tempo lá. com eles, e naquele lugar. choro com medo e muita saudade.
  • as frequentes saídas com dora-e-maria, onde sempre éramos um mesmo trio, extremamente compatível, equilibrado e estável, frequentemente um quarteto somando júlia lopes, permitindo sempre diversas formacoes, mas sendo sempre as que nunca tinham falado nada sobre as outras. as conversas desde-sempre com dora/sum, o recém-criado vínculo de verdade com maria/b., que tava lá sempre, querendo beber mais (e no entanto sempre ia embora cedo), e a jú/fernando/tomas/eu por si só. choro de nao-quero-mais-ficar-longe.
  • as saídas com muitas pessoas (nessas sempre estavam bolo e gabriel, e, vez ou outra, mario ou tiago), que muito frequentemente me irritavam e me faziam virar chata. choro mesmo.
  • a casa da iara, com cara de day after e iluminacao de filme, a segunda cama mais gostosa de todas, as roupas emprestadas e o tempo gasto pra se arrumar, o pré e o pós, a animacao e a ressaca. choro triste.
  • o equipe. as aulas essenciais, alguns professores geniais, a presenca constante das mesmas pessoas por sete anos seguidos, a sensacao final de nao-aguento-mais, as carteiras verdes tao enjoativas, os mesmos cantos e as mesmas coisas por tanto anos, as irritacoes repetitivas com as mesmas coisas, e as alegrias e satisfacoes por coisas totalmente diferentes. o bom e velho auditório igualmente cansativo e essencial e as diferentes coisas feitas por lá, algumas pessoas específicas que, estando sempre em volta, mantiveram tudo muito certo e muito como deveria estar, e o meu agradecimento eterno por tudo isso e todo o resto- de verdade, e por mais cafona que seja. choro extremamente feliz.

e dói e é ruim de verdade, e eu procuro muito um jeito de resolver isso, mas aparentemente nao existe, e o melhor caminho que eu achei foi listar muito superficialmente e de maneira quase brega, e tornar público, porque é difícil demais pra levar sozinha, e grande demais pra nao deixar as pessoas saberem. e isso nao é (ou pelo menos nao deveria ser) trágico. é sinal de vida continuando, de novas fases, de saber reconhecer a importancia do que passou e de achar difícil pra caralho crescer e superar coisas grandes e reconhecer que as coisas de fato mudaram e falar disso tudo no passado sem morrer (mas quase morrendo). e tem tanta coisa e tanta gente mais que eu tenho a sensacao de que nunca vou conseguir organizar tudo isso na minha cabeca, e provavelmente nao vou mesmo. assim como nao vou conseguir transmitir o tamanho disso tudo nem deixar nada claro pra ninguém. e assim como nao vou deixar de sentir saudade, ou sentir menos, ou achar mais fácil. mas é alguma coisa. nao sei mesmo o que, mas é.

5 comments:

she said...

ah.




suspiro, pausa, vai:



polyanna.
eu tbm tenho muito pra falar, mas acaba sendo repetido, e eu te escrevi e-mail pra falar mais sobre tudo mais profundamente, mas o que passa agora na minha cabeça é que tudo isso é amedrontador demais, e que kinda do mesmo jeito estamos todos passando por isso. [depois falo mais sobre isso em e-mails, enfim.]

e...

ah. e eu te amo.

e isso tudo aí acabou de me acalentar de uma maneira surpreendente e quase inacreditável [por se assemelhar ao efeito daquele colo que vc menciona ali em cima, e que é justamente o que eu tava precisando]. vc acabou de me pegar no colo e dizer que vai ficar tudo bem. bem daquele seu jeito lindo de ser a maior pessoa, a mais sabia, mais "serena" (no sentido exato da palavra, tirando sua essencia brega).
de verdade.
nao quero que isso soe mal, do tipo "aeee... vc ta ae sofrendo, se declara pra nos, e o que eu venho fazer é agradecer vc por me ajudar nesse momento tao dificil!" hahaha
mas acho que vc entende...


...e queria dizer que... vc vai ficar ainda mais tao maior pessoa, e tao mais sabia e tao mais serena.
depois de ler isso eu tive certeza de que buenos aires foi a melhor decisao pra vc, e que vc vai ser aquela amiga que a gente sabe que é a "bem resolvida". e nao to te dando um rotulo bobo, nem qrendo dizer que vc vai viver o mar de rosas, enfim de novo acho que vc entende de novo.


eu tenho um orgulho gigante de vc.


com amor,

felícia.

Flávia Onaga said...

ah, polainas. hoje eu tô mais pra lágrimas ou suspiros, nem um pouco pra comentários. e foram hastos aqui uns bons suspiros.

Anonymous said...

poly, tem uns momentos nos quais eu percebo que gosto muito de sentir que valorizo uns detalhes que às vezes ficam grandes dentro.
entendeu alguma coisa?
ahn...
:)

Anonymous said...

que dó de dona Julia.

Anonymous said...

This is great info to know.