19.2.09

ame-o e/ou deixe-o

nunca fui patriota. e sempre estive tao longe disso que nunca cheguei nem a entender muito bem a idéia. sempre gostei da minha* cidade, mas também sempre tomei isso por natural: nasci aí, cresci aí, pra mim o mundo era o que sao paulo me apresentava. claro, também já tinha viajado consideravelmente pelo país, o que me salvava de me fechar tao estupidamente nessa bolha paulistana, mas é inevitável esse acostumar-se, já que aí vivi sempre, e isso é o que me foi apresentado como natural. o ritmo, a concepçao de cidade, de diversao, de céu, de barulho, de noite: esse tipo de coisa é o que cresce com a gente sem que nos demos conta. e junto com isso vem o amor pela cidade: cresci amando minha cidade, tomando por natural o que ela me apresentava, e gostando do que recebia dela, sem perceber: sempre foi tao natural aquilo tudo, que nunca pude perceber o meu amor por sao paulo. com o país, a situaçao é ainda mais esquisita. meu* país é tao grande, tao múltiplo, tao inexplicavelmente heterogeneo, que nunca vi muito no que pudesse me agarrar para realmente sentir qualquer tipo de patriotismo, de amor. o clima nao é único, a geografia nao é única, nem a língua é exatamente única. só que talvez esse sentido de multiplicidade, de um brasil que reúne vários brasis, seja justamente o especial, o apaixonante, o amável e o que faz do país digno de patriotismo. e, assim como com a cidade, nunca pude perceber isso, por estar tao inevitavelmente acostumada com essa idéia de país. e, de fato, nunca pude nem perceber quao grande meu* país realmente é, nunca tive suas dimensoes reais, talvez por nunca ter precisado compará-lo com nada. mas uma vez longe de tudo isso, do país, da cidade, da língua, tudo-isso se faz um pouco mais claro, porque me vejo diante de algo realmente distinto (ainda que tenha muitos pontos em comum, algo inevitável nos dias de hoje), e nao menos belo ou menos digno de amor, mas que me lembra do que é único de cada lugar. o sentimento de pertencimento é, sem dúvida, algo bastante mutável e importante para possibilitar o amor e a permanencia em um lugar, mas há também um sentimento específico de pertencimento ao país e à cidade onde nascemos e crescemos, e esse é imutável e quase incondicional- e acho que isso é a essencia da idéia de patriotismo: se sentir pertencente a um país, independentemente do quando se goste racionalmente dele. e, no meu caso, só foi possível perceber isso depois de um ano afastada de minha cidade e do meu país.
* acho que o simples dizer "meu país" e "minha cidade" já indica algum sinal de amor patriota, nao?

1 comment:

Ro Snow said...

pero ahora contestame, quien es más grande? Maradona o Pele?
(nadie que no sea los arriba mencionados cuentan)