23.3.10

o enfrentamento (involuntário) da fobia

quarta-feira passada uma barata subiu no meu tornozelo.

eu não sei se vocês têm uma fobia. a minha, obviamente, é de baratas. como eu não sei se vocês têm alguma fobia, não sei se vocês estão tendo as dimensões corretas ao ler isso. é assim: eu tenho medo de muitas coisas nessa vida; meu medo mais sabido é o de guarda-chuvas, mas ele só é o mais conhecido porque é estranho e em geral merece ser comentado só por ser estranho. é um medo real, uma coisa que me incomoda (mais nuns dias que em outros), às vezes difícil de lidar, mas com a qual, at the end of the day, eu consigo conviver bem. o medo de rolhas de champagne é outro, já não tão estranho, muito forte, mas que eu obviamente experimento poucas vezes na vida, porque (infelizmente!) tomar champagne não é um hábito do meu cotidiano. agora o medo de baratas ultrapassa os limites da palavra medo. vai muito além de qualquer outra coisa que eu possa sentir e que seja minimamente parecida com medo. passa pelo horror, pelo insuportável. quando penso na simples idéia de que vivo no mesmo mundo que as baratas, que terei de conviver com elas pra sempre, e que depois que eu morrer elas ainda vão continuar existindo por muito tempo, ah, essa idéia me apavora. pensar nesse assunto já me deixa assustada, como poucas coisas na vida deixam. e o fato é: as baratas estão aí. estão na doutor arnaldo, na paulista, na augusta, na cardoso, na cardeal e na teodoro, e eventualmente até na área de serviço do meu apartamento. é uma coisa com a qual tenho que conviver, e isso me desespera imensamente. a ponto de dizer convicta que trocaria todas as baratas do mundo por garrafas de champagne sendo abertas bem na minha frente, por pessoas com guarda-chuvas. porque esses medos, por pior que sejam, são contornáveis. o medo de baratas- que nem é medo, é fobia- não.

e aí quarta-feira passada uma barata subiu no meu tornozelo.

eu estava em pé na calçada do bar, tomando uma guiness pra comemorar, e senti cócegas no tornozelo. quando fui passar o outro pé pra coçar, decidi olhar pra ver o que era, e a partir daí não sei bem o que aconteceu. sei que mexi meu pé muito rápido, e quando me dei conta estava paralisada, chorando, tremendo, soluçando. e assim fiquei por não sei quanto tempo, enquanto as pessoas em volta tentavam ajudar. eu não vi a barata indo embora, até hoje não sei pra onde ela foi, e isso me desespera ainda mais. não sei também se gritei, nem sei quanto tempo tudo isso durou: porque por uns intantes eu saí de mim, e fiquei num estado de paralisia totalmente inexplicável. aí meus amigos me convenceram de tirar o tênis, pra ter certeza de que ela não havia entrado nele (!!!). eu tirei ele com o outro pé, porque colocar as mãos ali embaixo era impensável, e joguei ele bem longe (justo meu tênis novinho, dourado, lindo). nada de barata no tênis, nada de barata em lugar nenhum que pudessemos ver. depois de um tempo voltei pra mesa, fiquei sentada sem tocar os pés no chão, e desde então não consigo ficar parada na rua: fico mexendo os pés sem parar. e desde então minha vida anda muito esquisita, e eu vivo numa paranóia sem fim, e tenho pesadelos com baratas todas as noites, e sinto cócegas na perna o tempo todo, e me assusto o tempo todo, e quando vejo uma barata na rua (porque elas continuam existindo) não posso evitar a reação exagerada. e já que eu não faço mais análise, achei que talvez se eu contasse isso pra vocês eu poderia me acalmar um pouco e conseguir dormir.

1 comment:

Gus Lanzetta said...

Hmm, entendi.